terça-feira, 24 de agosto de 2010

Espanha: Madrid e Barcelona



Passei férias entre Madrid e Barcelona em julho. Foi mais uma viagem mais gastronômica do que enófila, primeiro porque decidi – devido ao pouco tempo de estada na Espanha – não visitar regiões vinícolas, e, segundo, porque o calor de 35º, 40º nas duas cidades praticamente me obrigou a beber somente vinhos brancos, quase sempre em taças ou ½ garrafa.
Em dez dias visitei diversos restaurantes estrelados pelo Guia Michelin e outros não estrelados nas duas cidades .

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Barcelona é uma bela cidade, mas não é tudo isso que se diz por aí. Acho que esta impressão minha está relacionada ao perfil “alternativo” de muita coisa por lá. Confesso que não tenho paciência para coisas e pessoas muito alternativas, acho chato, cansativo, forçado. Mas vamos aos restaurantes:

Entre os estrelados, estive no Comerç24 (1 estrela) e no Lasarte (2 estrelas).
O Comerç24, comandado pelo chef empresário Carlos Abellan (ele tem outras casas na cidade) foi um dos melhores restaurantes em que estive na Espanha, sem dúvida alguma. Adepto da linha de Ferran Adrià, o chef realmente apresenta uma cozinha diferente e muito saborosa. A casa é toda moderna, com luzes indiretas e móveis coloridos. Experimentei o menu degustação, excelente. Também no Comerç24 tomei o melhor vinho branco da viagem, feito na região do Penedés com a uva Xarel.lo.

Também gostei bastante do Lasarte, embora menos do que do Comerç24. E o Lasarte é bem mais caro. O restaurante fica no Hotel Condes de Barcelona e é comandado pelo badaladíssimo Martín Berassategui, que também faz a tal da linha “tecnoemocional”, com espumas e esferas. Lá comi o melhor Jamón Ibérico da viagem.

Fora dos estrelados, estive no Els Pescators (de frutos do mar, apenas razoável), no El Quim (no mercado da Boquería, onde se come frutos do mar excelentes) e no maior mico da viagem, o bar de tapas El Xampanyet, recomendado por 10 entre 10 guias de viagem. Um lugar imundo, onde presenciei situações escabrosas. Um lixo!

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Madrid é mais cidade. Cosmopolita, cheia de alternativas, sem o regionalismo idiossincrático de outras regiões. Nos dias em que fiquei lá fiz um bom roteiro gastronômico, alternando casas tradicionais e representantes da nova cozinha espanhola.
Visitei o Botin, restaurante mais antigo do mundo, que já vale a visita somente por isso. A comida é boa. Também estive no La Bola, apontado pelo Michelin como um dos lugares onde se come bem e barato na cidade. Lá comi um maravilhoso pernil de baby cordeiro, desmanchando. Outra boa, aliás, ótima casa em que estive foi o La Traineira, espetacular casa de pescados de Madrid. Não agüentei e voltei lá com minha esposa mais uma vez para saborear os canapés de gambás, ameijaas, salpicón de mariscos, gambás cocidas a la plancha etc.


Entre os estrelados do Michelin, estive no Santceloni (2 estrelas), no La Broche e no Ramón Freixa, ambos com 1 estrela. O melhor foi o Ramón Freixa, onde encontrei uma comida criativa e diferente, como por exemplo uma entrada de tomate em vários tempos, onde o fruto é apresentado de várias formas. O cardápio da casa segue esta linha, sempre com ótima qualidade. Comemos peixe – rodovalho e salmonete, acompanhado do branco riojano Predicador.

Já o La Broche, também com uma estrela, é mais imponente, mas tem uma comida também na linha tecnoemocional. Destaque para os snacks do chef (presente em todas as casas como gifs, surpresas etc.), servidos logo que chegamos, e, também, para a entrada Pan con tomate que o chef manda à mesa separadamente, para que o cliente faça seu próprio bocado a partir de uma receita apresentada em um pergaminho: pão tostado, tomates maduras, flor de sal e azeite. Sensacional.

Por se tratar de um 2 estrelas sob o comando do famoso e polêmico Santi Santamaria (que vem dando umas cacetadas na comida tecnoemocional e em Ferran Adrià, e, por isso, ganhou pontos comigo, pois acho um saco esta coisa de esferas e espumas), o Santceloni decepcionou. A comida é boa? Sim. Tem qualidade? Sim. É inesquecível? Não, definitivamente não é. Mas deveria, pelo preço cobrado, pela pompa da casa...

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Fiquei com a impressão que em todos os restaurantes da chamada nova cozinha espanhola se tem “más de lo mismo”. Achei todos muito bons, mas muitos parecidos em suas propostas.

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Estive na famosa loja de vinhos Lavínia, presente em Barcelona e Madrid, entre outras cidades (deve abrir uma unidade em São Paulo em breve). É impressionante o tamanho do local e a variedade de vinhos que eles têm, inclusive muitos dos quais em taça. Mas o atendimento que recebi foi péssimo. Entrei na loja de Madrid faltando 40 minutos para seu fechamento e não fui atendido (mesmo solicitando ajuda) por ninguém. Tive que procurar o que queria e levar pessoalmente 6 garrafas ao caixa.

www.comerc24.com
www.condesdebarcelona.com/ (Lasarte)
http://www.elspescadors.com
www.elquimdelaboqueria.cat

www.botin.es
www.labola.es
www.latraineira.es
www.ramonfreixamadrid.com
www.labroche.com
www.restaurantesantceloni.com