domingo, 1 de março de 2009

11/10/2007

Paladar padronizado

Recentemente a famosa crítica inglesa de vinhos Jancis Robinson escreveu um artigo (ver www.jancisrobinson.com e bimestralmente na revista Prazeres da Mesa) comentando o fato do paladar, tanto de consumidores quanto de críticos/especialistas, se acostumarem aos vinhos de determinada região, quando submetidos apenas a este tipo de vinho. Ela destacava a importância de experimentar outras coisas (em termos de vinho, logicamente) quando as pessoas estão em viagem em um país/região de produtos muito característicos, e citava vários exemplos.

Estou relembrando o artigo porque há algumas semanas estive na Argentina e - como comentei em um post abaixo - achei os vinhos locais muito caros, porém garimpando algumas lojas de Buenos Aires descobri coisas interessantes de outros paises, como por exemplo um Barolo Sperss Gaja 1991 (Piemonte, Itália) por inacreditáveis 50 dólares e um Don Miguel Vineyard Pinot Noir 1997 Marimar Torres (Russian Valley, Califónia, EUA) por menos de 25 dólares.

Uma possível explicação para estes preços “ótimos” está no que Jancis Robinson citou em seu artigo, isto é, a tendência de padronização de gosto dos consumidores. No caso dos argentinos, além da natural tendência dos países produtores de comprar as coisas feitas “em casa”, há o estilo concentrado e maduro que caracteriza os novos vinhos argentinos. Resultado: vinhos de outros países não são valorizados na Argentina (exceto pelos grandes conhecedores) , em especial um vinho italiano difícil como o Barolo.

Sorte minha, porque comprei vinhos ótimos por preços inacreditáveis.

***
Falando um pouco mais do Barolo Sperss Gaja, o bom preço também pode estar ligado a média qualidade da safra 1991 no Piemonte, que obteve nota 6 em 10. Outro fato que pode ter contribuído para o preço baixo do vinho foi a nota conferida por Robert Parker, apenas 87 pontos, quando a média dos vinhos Gaja é sempre superior a 90 pontos.
Mas o que importa é o que a gente acha do vinho, e o Sperss 1991 estava maravilhoso quando foi degustado, na semana passada, em uma noite italiana convocada e comandada pelo amigo Sylvio Lazarrini, do Varanda Grill. Aos 16 anos de idade, o Sperss (que atualmente não traz mais a denominação Barolo, mas sim Langhe Nebiollo, por opção do produtor) mostrou muita complexidade, qualidade e harnomia. Certamente não é um vinho fácil, mas é um belo Barolo que fez ótima figura ao lado de outros grandes vinhos degustados naquela noite, como os toscanos Tenuta San Guido Sassicaia 2002 e Collezione de Marchi Cabernet Sauvignon 1999, os piemonteses Elio Altare Barolo Vigneto Arborina 1999 e Gaja Barbaresco 2000, o belo La Palazzola Merlot 1999 da Umbria e o Bertani Amarone Recioto della Valpolicella 1990 (Veneto).

Escrito por Raul Fagundes Neto às 11h06

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