domingo, 1 de março de 2009

07/05/2008

Chororô e baixaria

”Quem não tem competência não se estabelece”, “Cliente/parceiro não tem dono”, “Roupa suja se leva em casa”.As batidas frases acima cabem perfeitamente para definir a mais recente baixaria do mundo do vinho no Brasil, envolvendo acusações do dono da importadora Terroir contra seus concorrentes.Recebi, na semana passada e pela 2ª vez, a mala direta enviada pela Terroir para milhares de pessoas, "chorando” a perda de produtores de seu portfolio e acusando os concorrentes de postura antiética e aliciamento/corrupção de profissionais de restaurantes (sommeliers etc.), além de uma tentativa de desqualificar um produtor de renome (no caso, o respeitado chileno Eduardo Chadwick, produtor de grandes vinhos como o Seña, o Vinhedo Chadwick e o Don Maximiano). A coisa piorou com uma nota na Veja SP desta semana, onde, após ser questionado pela revista, o dono da Terroir atirou para todos os lados, dizendo que as práticas antiéticas e desonestas são feitas por todas as importadoras, com exceção, logicamente, dele e de apenas mais uma, a Enoteca Fasano.

A tática da “exceção” não é nova em se tratando da Terroir. Vi e li diversas vezes, no passado, o dono da empresa - que se auto-intitula como “O Homem do Vinho” - afirmar que haveria somente três importadoras sérias no mercado de vinhos recheado de oportunistas e aventureiros: ele próprio, a Mistral e a Expand (agora a Mistral deve ter saído da lista, porque está sendo acusada). O bordão era até ironizado no mercado. Uma vez, em uma degustação da ABS-SP, um conhecido diretor da entidade, ao apresentar um importador reconhecido pelo trabalho sério, disse algo assim, entre risos: “segundo um importador, esta empresa não está entre as sérias de mercado, mas a gente acha que sim...”.

O mundo do vinho não é um mar de rosas, como querem nos vender muita gente (inclusive alguns que escrevem sobre o assunto). Não é um mercado poético e altruísta, de gente desvinculada de interesses, apaixonada etc. É um negócio como outro qualquer - para o bem e para o mal – onde se desejam resultados, lucros, conquistas. Por isso, nele estão bons e maus produtores, bons e maus importadores, bons e maus profissionais, bons e maus formadores de opinião etc.

Em relação às importadoras, não sou “torcedor” de nenhuma, mas cliente de várias, com muitas ressalvas. Acho que quase todas praticam margens muito altas (umas mais, outras menos), culpando, como sempre, a carga tributária brasileira. E ponto.

Agora, as acusações da Terroir contra seus concorrentes são, na realidade, chororô de quem perdeu, mais nada. E para a grande maioria dos clientes dela e das outras, o interesse pelo assunto é ZERO. Como diz minha mãe, “eles que são grandes que se entendam”. Mas vamos combinar, não usem a mídia e a propaganda para isso.
Escrito por Raul Fagundes Neto às 14h03[ (12) Comentários] [ envie esta mensagem ] [ link ]

05/05/2008

Inverno

Confesso que já gostei mais do inverno. Hoje, prefiro muito mais os dias mais amenos, nem muito frios, nem muito quentes. Mas não há como negar que os dias frios são ótimos para tomar vinhos mais estruturados, com mais corpo e potência.

Com os dias mais frios da semana passada, aproveitei para exercitar o que mais curto no mundo do vinho, isto é, sua compatibilização com a comida, a descoberta de novas parcerias, de combinações inusitadas etc.

No feriado de quinta, dia 1º de maio, preparei um Ossobuco à Ambrosiana, tradicionalíssimo e delicioso, feito como se deve: lentamente, com a carne cozinhando em um caldo com vinho branco, salsão, cenouras, cebolas etc. Para escoltar o vinho, escolhi o Amarone Della Valpolicella Classico 2001 Cesari, um robusto tinto do Venêto. O produtor não é um dos tops da região, mas a safra 2001 foi boa (nota 7), e o vinho estava perfeito com o Ossobuco. Complexo, longo, rico. Belo casamento, pois a riqueza e estrutura do vinho sustentou perfeitamente o peso do Ossobuco.
Como o frio teimou em permanecer presente, não tive como resistir e domingo foi dia de outro clássico, dessa vez da França. Preparei um Beauf Bourguignonne, tradicional cozido da região da Borgonha feito com vinho tinto (de preferência da mesma região), também com longo tempo na panela. Como qualquer vinho da Borgonha é caro, acabei usando outro mais simples para preparar a receita, e por isso, decidi experimentar um tinto de Bordeaux com o prato, o Château Petit Clos Du Roy 1999 (por volta de R$ 80,00 no Club du Taste Vin), um Saint Emilion genérico de boa relação qualidade/preço, com notas terrosas, musgo, violetas. Também foi uma boa compatibilização, com a elegância do vinho bem casada com os sabores mais delicados do prato.

Escrito por Raul Fagundes Neto às 14h13

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