domingo, 1 de março de 2009

01/06/2008

Brasil e Argentina

Acho que é ponto pacífico no mercado que os vinhos brasileiros vêm evoluindo de forma consistente, não apenas entre os já reconhecidos espumantes, mas também nos brancos e tintos. Talvez esta evolução seja mais perceptível entre os chamados vinhos top, nas faixas mais altas de preço, do que entre os básicos. Concordo, mas também acho que nas categorias mais simples a coisa vem melhorando.
Mas meu assunto de hoje é um top brasileiro, mais específicamente o Salton Talento 2002 (corte de Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat), que bebi na semana passada, e sua comparação com um rótulo argentino festejado, o Colomé Estate 2003 (Malbec e Cabernet Sauvignon), produzido na região de Salta.
Tomei o Talento 2002 na hora certa. O vinho estava prontíssimo, com correta evolução, taninos redondos. Mas o que me surpreendeu foi sua elegância, sua finesse. Já tinha tomado algumas vezes o vinho da mesma safra 2002, mas desta vez ele estava bem melhor. Parecia em Cru Bourgeois ou um Petit Chatêau de Bordeaux. Pena que a safra mais recente do Talento, o 2004, não tenha o mesmo pedigree. É bom, mas perdeu o lado Velho Mundo que havia no 2002 e ganhou aquelas características tão comuns aos vinhos do Novo Mundo: muita potência, muito fruta madura, difuculdade de compatibilzação com a comida etc.
Foi justamente isso que percebi ao tomar o Colomé 2003 no dia seguinte. Também já tinha tomado o Colomé em outras oportunidaes, uma delas em uma degustação de "vinhos com carnes", quando ele levou o primeiro lugar. Mas desta vez achei o Colomé totalmente "over". Sobra madeira, sobra fruta madura, sobra potência, sobra intensidade. Falta elegância, falta personalidade. Acho que é um vinho para competições, não para a mesa.
Tenho mais algumas garrafas do Colomé em minha adega, mas nenhuma do Talento 2002. Nunca pensei que um dia diria isso, mas sem dúvida alguma queria que fosse o inverso.

Escrito por Raul Fagundes Neto às 11h05[ (3) Comentários] [ envie esta mensagem ] [ link ]

15/05/2008

Isenção

Logo que comecei a me interessar mais por vinho, ganhei de um amigo um exemplar do famoso guia do crítico inglês não menos famoso Hugh Johnson, autor de diversos e reconhecidos livros sobre o universo da bebida, entre os quais A História do Vinho e O Atlas Mundial do Vinho.

Li o guia do começo ao fim, mas logo em sua apresentação, havia uma nota do autor, deixando bem claro aos leitores que ele mantinha relações comerciais com um ou outro empresário do ramo, como importadores etc. Achei aquilo um exemplo de transparência, de respeito ao leitor e ao mercado.

Confesso que, desde então, me sinto incomodado com as relações não tão claras que existem entre formadores de opinião da mídia especializada em vinhos no Brasil e comerciantes envolvidos no setor. Claro que não sou contra que pessoas que conhecem e que entendem de vinho, auxiliem importadores, expositores e restaurantes na seleção de rótulos, na composição de portfólios, em palestras, na formação de cartas de vinho etc. Isso é muito bom, sem dúvida. O que não é bom, não é transparente, não é verdadeiramente honesto com o leitor, é não deixar isso claro, não explicitar estas relações, não avisar o leitor que existem interesses que ligam quem escreve a, muitas vezes, o objeto do texto. Também não quero dizer que aqueles que mantém relações com “os agentes do mercado” não tem isenção, porém, ao não revelar tal relação, certamente eles dão margem a todo tipo de interpretação, verdadeira ou fantasiosa.

Poucos, raros até, são os que deixam claro estas relações. Assim, não posso deixar de citar o exemplo positivo da recém-reformulada revista Menu (da Editora Três) e de seu novo colunista Arthur Azevedo (presidente da ABS-SP), que estão colocando no rodapé da coluna do mesmo a menção de que este presta consultoria para a Casa Flora. Parabéns pela transparência.

Escrito por Raul Fagundes Neto às 14h19

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